segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Funções da linguagem

Olá, pessoal.
Mais uma vez, sumi no mundo sem dar satisfação, né? Passei algum tempo refletindo qual postagem seria mais adequada para tirar as teias de aranha que já estão por aqui. Mil e um assuntos me passam pela cabeça, mas não que eu veja muita utilidade prática neles (e nem muita utilidade para os amigos do vestibular, para falar a verdade). Pretendo surgir com eles, sim, mas não por agora. Sem contar que vão exigir de mim um pouco mais de estudo da matéria, coisa que não tenho feito nas férias.
Para trazer o blog de volta, trago então um assunto bem tranquilo, um exercício quase divertido de se fazer. 
Apesar de poder parecer para alguns um assunto bobo e de pouca importância, o estudo das funções da linguagem demandou muita atenção de diversos cientistas. Entretanto, o modelo mais amplamente difundido (o que é estudado nas escolas, e, portanto, o que será abordado aqui) é o do linguista Roman Jakobson. 
Primeiramente, precisamos destacar que todo ato de comunicação é constituído pelos seguintes elementos: remetente, contexto, mensagem, canal, código e destinatário. Para que a comunicação se realize de maneira plena, a emissão da mensagem de um remetente a um destinatário não é suficiente. São necessários também um contexto, um código e um canal que o remetente e o destinatário compartilhem.  
Contexto é o conjunto de informações de que o destinatário precisa ter conhecimento para que possa compreender a mensagem. Quando elementos como o momento de produção da mensagem ou o conhecimento do assunto em pauta não estão ao alcance do destinatário, o resultado é uma mensagem ineficaz.
Código é o conjunto de sinais ou signos utilizados pelas pessoas para que se estabeleça uma comunicação. Para me dirigir a vocês, por exemplo, uso a Língua Portuguesa, que é um código que compartilhamos. Um japonês que desconheça nosso idioma provavelmente não compreenderá as mensagens aqui expostas e, portanto, a comunicação não será estabelecida.
Canal é o meio pelo qual a mensagem é transmitida. Numa conversa em que remetente e destinatário encontram-se na presença um do outro, considera-se que o canal transmissor seja o ar, através do qual há a propagação das ondas sonoras. No caso da comunicação que agora eu estabeleço com vocês, o canal que eu utilizo é o blog, ou a internet, se quisermos analisar de maneira macro.

Agora, de posse dessas informações, analisemos as seis funções estabelecidas por Jakobson. É necessário perceber que cada uma destas está centrada em um dos seis elementos apresentados como constituintes de qualquer ato de comunicação.

1) Função emotiva: Centrada no remetente. É a exteriorização da emoção do remetente em relação àquilo que fala. Essa emoção acaba por transparecer na mensagem. Essa função fica muito marcada pela escolha de palavras do remetente (note a diferença de emoção existente entre as frases "Ele saiu de casa" e "O canalha abandonou o lar") e pela entonação que usa na transmissão do que deseja comunicar (no caso de uma comunicação escrita, a mudança de entonação virá marcada pela pontuação que o remetente escolhe utilizar), além do uso de interjeições.
2) Função referencial: Centrada no contexto. Consiste na transmissão de informações do referente ao destinatário - conhecimentos referentes a pessoas, objetos ou acontecimentos.
Notícias de jornal são um claro exemplo dessa função.
3) Função poética: Centrada no mensagem. É marcada por uma clara seleção dos elementos linguísticos e preocupação com a forma. Se preocupa mais com como dizer do que com o que dizer. Aparece majoritariamente em textos literários, mas também em expressões cotidianas, que contam com figuras de linguagem como a metáfora, e no ambiente publicitário.
4) Função fática: Centrada no canal. Consiste na tentativa de estabelecer ou finalizar a comunicação. É marcada principalmente por saudações e despedidas, e por tentativas de checar o recebimento da mensagem (nas conversas cotidianas, por exemplo, há um grande costume de colocar o "né" ao final de algumas frases, como uma forma de garantir ao destinatário que ele ainda está participando do processo comunicativo). 
5) Função metalinguística: Centrada no código. É o uso da linguagem para se referir à própria linguagem. Basicamente, é o que estou fazendo aqui, utilizando a Língua Portuguesa para me referir à própria Língua Portuguesa. São exemplos também os dicionários, as gramáticas, as poesias que falam sobre poesias, e por aí vai.
6) Função conativa ou apelativa: Centrada no destinatário. Há uma tentativa de influenciar o comportamento do destinatário, com a intenção de convencê-lo de algo ou dar-lhe ordens. Muito marcada pelo uso de "tu" e "você", ou o nome da pessoa, além de vocativos e imperativos. É amplamente usada em propagandas, já que possuem como função básica a persuasão do público.

É importante destacar, ao final desta postagem, que uma mesma mensagem apresenta quase invariavelmente mais de uma dessas funções. Por isso, se algum dia você, ao analisar uma frase, detectar nela mais de uma função, não se preocupe. O que você deve fazer, sim, é detectar qual função se manifesta com mais força. "(...) a decisão referente a qual a função que caracteriza uma mensagem é mais uma questão de decidir a ordem hierárquica de funções do que de escolher apenas uma.", escreveu o linguista Mário Eduardo Martelotta no livro Manual de Linguística, que organizou junto a outros linguistas, e que foi fundamental fonte de consulta para a formulação da postagem de hoje. Além do livro, este site foi mais uma vez meu auxílio para um momento ou outro. 
Espero ter sido útil. Apreciem, elogiem, critiquem, mandem sugestões por comentário, e-mail, Facebook, telefone ou sinal de fumaça, e puxem minhas orelhas a cada vez que eu ficar muito tempo sem postar nada.

Até a próxima (e espero que isso não seja daqui a muito tempo).

sábado, 11 de outubro de 2014

Quatro porquês? Por quê? Por que tanta regra? Porque sim.

Oi, gente!

Confesso que sumi por um longo tempo e peço perdão por isso. Tudo culpa da faculdade.
Para a postagem de hoje, vou remeter vocês ao primário. Lembram de como eram as provas? De quando aparecia "por que", "porque" ou "por quê"? Se você não lembra das regras, agora vai finalmente entender o porquê de cada um aparecer em um tipo de frase (opa, mais uma forma de "porquê" aqui!) e qual é a diferença entre eles. Vamos, então, entender esses quatro porquês e possibilitar o fim das confusões.

- Por que
Ele pode ser:
  • A junção da preposição por com o pronome interrogativo ou indefinido que, significando "por qual razão" ou "por qual motivo". Voltando às provas do primário, este era o "por que" que geralmente aparecia nas perguntas.

Exemplos: Por que você se foi?
                  Não sei por que você se foi.
  • A junção da preposição por com o pronome relativo que, significando "pelo qual" e sendo flexionável (pela qual, pelos quais, pelas quais).

Exemplo: O time por que torço venceu o jogo de ontem à noite.

- Por quê
Deve-se acentuar o "por quê" quando ele vier ao final da frase, mantendo o significado de "por qual motivo" ou "por qual razão". Se vocês buscarem bem na memória, vão lembrar que algumas questões tinham duas perguntas, sendo a segunda um "Por quê". Ele vinha escrito desta forma justamente por ser o final da frase.
Exemplo: Você não participou da dança? Por quê?

- Porque
Permanecendo no campo semântico das provas do primário, esse era o "porque" que a gente escrevia nas respostas. É, portanto, uma conjunção causal ou explicativa, tendo o mesmo significado de "pois", "uma vez que", "para que".
Exemplo: Não fui ao show porque precisava estudar para a prova.

- Porquê
Este é, provavelmente, o que a gente menos sabe usar. Mas não é difícil de aprender, não. Este "porquê" é um substantivo, significa "o motivo", "a razão", e vem acompanhado de artigo, pronome, adjetivo ou numeral.  
Exemplos: Este é o porquê de eu não ter ido à festa.
                  Existem quatro porquês na Língua Portuguesa.


Dúvidas? Sugestões? Perguntas? Já sabem, podem entrar em contato através do e-mail yasminbc16@gmail.com

Espero ter sido útil.
Até a próxima!

terça-feira, 15 de julho de 2014

Análise Semântica

Olá, pessoal!
O assunto da postagem de hoje é na verdade mais fácil do que se pensa. Eu ia já começar a tratar das classes gramaticais e a análise sintática, mas decidi que é melhor começar pela semântica.
Primeiramente, deve-se saber que semântica é o estudo do significado, que incide sobre relação entre significantes (palavras, frases, sinais e símbolos) e o que eles representam.
Antes de começar qualquer estudo mais aprofundado, precisamos definir aqui as duas formas em que uma palavra pode se apresentar dentro do texto: no sentido denotativo ou no sentido conotativo. Essas duas possibilidades estão diretamente ligadas com o sentido que a palavra pode adquirir de acordo com seu emprego, a saber:

- Denotação: é o uso da palavra em seu sentido original, básico, objetivo, na exata forma como é retratada pelos dicionários.
Exemplo: Aquele muro foi construído com pedras.

- Conotação: é o uso da palavra em sentido figurado, dependente do contexto em que ela se apresenta. A conotação é muito usada na linguagem poética e também na nossa fala cotidiana, por toda a expressividade que carrega.
Exemplo: Você tem um coração de pedra.

Para tratar do aspecto semântico da língua, são levadas em conta as seguintes propriedades:

- Sinonímia: é a divisão da semântica que estuda as palavras com significados iguais ou semelhantes, ou seja, os sinônimos.
Exemplo: casa - lar - moradia - residência

- Antonímia: essa divisão estuda as palavras com sentidos opostos, ou seja, os antônimos.
Exemplo: mal / bem ; mau / bom

- Polissemia: é a propriedade que uma mesma palavra tem de apresentar múltiplos significados, identificados de acordo com os variados contextos em que aparecem.
Exemplo: manga (da camisa; fruta)

- Homonímia: relação entre duas ou mais palavras que possuem significados diferentes, mas são idênticas na escrita, na pronúncia, ou na escrita e na pronúncia, dividindo-se da seguinte forma:
Homônimos Homógrafos: palavras diferentes na pronúncia e iguais na escrita.
Exemplo: gosto (substantivo) / gosto (1ª pessoa do singular no presente do indicativo do verbo gostar)

Homônimos Homófonos: palavras iguais na pronúncia e diferentes na escrita.
Exemplo: acento (sinal gráfico) / assento (local onde se senta)

Homônimos Perfeitos: palavras iguais na pronúncia e na escrita.
Exemplo: verão (verbo) / verão (substantivo)

- Paronímia: relação entre duas ou mais palavras que possuem significados diferentes, mas são muito parecidas na escrita e na pronúncia.
Exemplo: cavaleiro (que cavalga) / cavalheiro (homem)

Caso tenham curiosidade, vocês podem clicar aqui para mais exemplos de homônimos, e aqui para conhecer outros parônimos.

Além dos supracitados, a semântica moderna faz uso dos termos hiperônimo e hipônimo, que são importantes recursos na coesão do texto, evitando a repetição de palavras. São explicados da seguinte maneira:

- Hiperônimo: palavra que pertence ao mesmo campo semântico de outra palavra, mas com um sentido mais abrangente.
Exemplo: Flor é um hiperônimo para rosa, margarida, jasmim, e outras.

- Hipônimo: tem um sentido mais restrito que o hiperônimo, ou seja, é um vocábulo mais específico.
Exemplo: Gripe é um hipônimo de doença.


Sinto-me na obrigação de, ao final das postagens, dizer a vocês em quais páginas me apoiei para redigir a explicação. Então, hoje os sites que mais me ajudaram foram este (que, aliás, já é de praxe), e este aqui.
Por hoje é só, pessoal. Em caso de dúvidas, perguntem e eu tento ajudá-los.
Beijos da Meens.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Figuras de Linguagem

Olá!
Após mais uma incrível demora (pela qual eu mais uma vez me desculpo), venho hoje lhes falar sobre as figuras de linguagem (que podem ser figuras de som, de construção, de pensamento ou de palavras). Mas, afinal, o que são essas figuras?
As figuras de linguagem são recursos utilizados pelos falantes da língua para garantir uma maior expressividade à mensagem que se deseja transmitir. Muitas vezes fazemos uso delas em conversas do dia a dia, sem sequer nos darmos conta disso. Abaixo, apresentarei cada uma delas, seguida sempre por um exemplo.

Figuras de Som

- Aliteração: consiste na repetição de sons consonantais com a intenção de intensificar o ritmo ou produzir um efeito sonoro significativo.
Exemplo: O rato roeu a roupa do rei de Roma.

- Assonância: consiste na repetição de sons vocálicos idênticos.
Exemplo: "Sou um mulato nato no sentido lato
                 Mulato democrático do litoral" (Caetano Veloso)

- Paronomásia: consiste na repetição de sons semelhantes em palavras com significados distintos.
Exemplo: "Eu que passo, penso e peço." (Sidney Miller)

- Onomatopeia: consiste na tentativa de reproduzir sons reais na forma de palavras.
Exemplo: Tic-tac fazia o relógio na sala de jantar.

Figuras de Construção

- Elipse: é a omissão de um ou mais termos da oração que podem ser facilmente identificados, tanto por outros elementos da oração, quanto pelo contexto.
Exemplo: Tenho quatro irmãos e amo todos da mesma maneira. (As desinências verbais de tenho e amo nos permitem identificar o sujeito "eu" em elipse.)

- Zeugma: é uma forma de elipse em que se omite um termo que já foi mencionado anteriormente.
Exemplo: Ela prefere cinema; eu, teatro. (Omissão de prefiro.)

- Silepse: é a chamada concordância ideológica, ou seja, ocorre quando concordamos não com um termo expresso na oração, mas sim com algum termo subentendido. Existem três formas de silepse: de gênero, de número e de pessoa.
     
1) Silepse de gênero: os gêneros são o masculino e o feminino. Esta forma de silepse ocorre quando concordamos com a ideia que o termo traz.
Exemplo: Vossa Excelência está preocupado. (Nesse caso, o adjetivo preocupado concorda com o sexo da pessoa, em vez de concordar com o termo expresso Vossa Excelência.)

2) Silepse de número: os números são o singular e o plural. Esta forma de silepse ocorre quando não concordamos gramaticalmente o verbo com o sujeito da oração, mas sim com a ideia contida nele.
Exemplo: O povo corria por todos os lados e gritavam muito alto. (Note que o sujeito [povo] se encontra no singular, assim como o primeiro verbo, mas o verbo gritavam se encontra no plural, concordando com a ideia trazida pela palavra povo, e não com sua forma.)

3) Silepse de pessoa: são três as pessoas gramaticais: primeira (eu / nós), segunda (tu / vós) e terceira   (ele / ela / eles / elas). A silepse de pessoa ocorre quando o verbo não concorda com o sujeito da oração, mas sim com a pessoa inscrita nele.
Exemplo: "Dizem que os cariocas somos pouco dados aos jardins públicos." (Machado de Assis)
(O verbo somos não concorda com o sujeito os cariocas, mas sim com a ideia de que o autor se insere na ideia trazida no sujeito; ou seja, ele também é carioca, e, por isso, em vez de concordar o verbo com o sujeito, colocando-o na terceira pessoa, coloca na primeira e explicita a ideia de estar dentro do grupo citado.)

- Polissíndeto: para entender esta figura, primeiramente deve-se saber que nos períodos compostos por coordenação (farei em breve uma postagem para explicá-los), podemos ter ou não a presença de conectivos, podendo então classificar os períodos entre sindéticos (com conectivos) ou assindéticos (sem conectivos). O polissíndeto é, portanto, caracterizado pela repetição enfática de conectivos.
Exemplo: "Falta-lhe o solo aos pés: recua e corre, vacila e grita, luta e ensanguenta, e rola, e tomba, e se espedaça, e morre." (Olavo Bilac)

- Assíndeto: é uma figura caracterizada pela ausência de conectivos entre as orações.
Exemplo: "Vim, vi, venci." (Júlio César)

- Pleonasmo: ao contrário do que se pensa, o pleonasmo não é um erro. Ele é comumente utilizado, inclusive por grandes escritores, e tem a intenção de realçar uma ideia e torná-la mais expressiva, podendo, para isso, usar palavras do mesmo campo semântico ou termos que tenham a mesma função sintática de um outro termo presente anteriormente na oração (ao que se dá o nome de pleonasmo sintático). Devemos ser cautelosos, sim, com o pleonasmo vicioso, pois este é desnecessário (casos como "subir para cima" ou "descer para baixo").
Exemplos: O problema da violência, é necessário resolvê-lo logo. (Nesta oração, "o problema da violência" e "-lo" exercem a mesma função sintática [objeto direto], e, portanto, caracterizam um pleonasmo.)
                 "E rir meu riso" (Vinícius de Moraes)

- Anáfora: é a repetição de uma mesma palavra no início de versos ou frases, gerando um efeito de reforço e coerência.
Exemplo: "Amor é um fogo que arde sem se ver;
                  É ferida que dói e não se sente;
                  É um contentamento descontente;
                  É dor que desatina sem doer." (Luís Vaz de Camões)

- Anacoluto: é uma figura que se caracteriza por uma ruptura na estrutura frasal. Inicialmente se escolhe uma construção, mas depois se opta por outra, e um termo acaba por ficar solto na frase.
Exemplo: Os alunos da escola, não se pode duvidar deles. (Note que o termo "os alunos da escola" seria inicialmente o sujeito da oração; no entanto, devido a uma interrupção no meio da frase, essa expressão fica à parte e não exerce função sintática alguma.)

- Hipérbato: é a inversão da ordem direta dos termos da oração (sujeito + verbo + complementos + adjunto). É uma forma mais dramática e poética de apresentar a frase.
Exemplo: "Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
                  De um povo heroico o brado retumbante" (Joaquim Osório Duque Estrada)
(Na ordem direta, ficaria da seguinte forma: As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heroico.)

Figuras de Pensamento

- Antítese: consiste na aproximação de duas palavras opostas, realçando um contraste entre seus sentidos que não seria conseguido se elas fossem postas separadamente.
Exemplo: "Desceu aos pântanos com os tapires; subiu aos Andes com os condores." (Castro Alves)

- Paradoxo: é também caracterizado pela aproximação de ideias opostas, mas, nesse caso, o uso é tão absurdo que se torna contraditório.
Exemplo: "Estou cego e vejo
                  Arranco os olhos e vejo." (Carlos Drummond de Andrade)

- Eufemismo: é um recurso utilizado para comunicar informações desagradáveis através de expressões mais suaves.
Exemplo: Depois de muito sofrimento, entregou a alma ao Senhor. (= morreu)
(Obs: Para a mesma frase supracitada, poderia também apresentar um tom sarcástico, irreverente, por meio de expressões como "bateu as botas", com a figura que chamamos de Disfemismo.)

- Ironia: com o desejo de se obter um efeito crítico ou humorístico, a ironia é a utilização de um termo com o sentido oposto ao que se deseja transmitir, ou seja, é você utilizar uma palavra com a intenção de que ela soe exatamente o contrário do que a palavra usualmente comunica.
Exemplo: "A excelente Dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças." (Monteiro Lobato)

- Hipérbole: é o uso proposital de uma expressão exagerada com o intuito de se enfatizar a ideia transmitida.
Exemplo: Estou morrendo de sede.

- Prosopopeia ou personificação: é caracterizada pela atribuição de características ou ações de seres animados a seres inanimados, ou características humanas a seres não humanos.
Exemplo: "O cipreste inclina-se em fina reverência
                e as margaridas estremecem, sobressaltadas." (Cecília Meireles)

- Apóstrofe: consiste na invocação enfaticamente de alguém ou alguma coisa personificada. Realiza-se por meio do vocativo e com finalidade poética, sagrada ou profana.
Exemplo: "Senhor Deus dos desgraçados!
                  Dizei-me vós, Senhor Deus!" (Castro Alves)

- Gradação: é a apresentação de ideias em progressão crescente (clímax) ou decrescente (anticlímax).
Exemplo: "O trigo... nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, colheu-se." (Padre Antônio Vieira)

Figuras de Palavras

- Comparação ou símile: é estabelecida uma relação de semelhança explicitamente, ou seja, que se mostra através do uso de partículas comparativas.
Exemplo: "Meu coração tombou na vida
                  tal qual uma estrela ferida
                  pela flecha de um caçador." (Cecília Meireles)

- Metáfora:  é uma comparação que se estabelece sem que o conectivo de comparação esteja presente, isto é, uma relação de semelhança estabelecida mais no plano ideológico que no verbal. Características dos termos que se compara fazem com que o autor da comparação os ache semelhantes e dignos de uma construção metafórica.
Exemplo: "Meu pensamento é um rio subterrâneo." (Fernando Pessoa)

- Metonímia: consiste em empregar um termo em lugar de outro, havendo entre eles uma estreita relação de sentido ou afinidade. Pode ocorrer de 14 formas diferentes, que estão listadas aqui, caso interesse a vocês dar uma olhada para entender melhor. Não coloco as 14 aqui porque tornaria a postagem ainda mais extensa. Colocarei aqui dois exemplos que sintetizam bem o sentido da metonímia.
Exemplos: Autor pela obra: Gosto de ler Machado de Assis. (A obra literária de Machado de Assis)
                  Continente pelo conteúdo: Comeu dois pratos no almoço. (A comida que estava no prato)

- Catacrese: é, na verdade, uma metáfora cristalizada. Ocorre quando não possuímos um termo específico para designar determinada coisa, e acabamos por tomar outro desempregado e formar uma metáfora. Porém, devido ao uso contínuo e à popularidade do termo, não mais se percebe a presença da metáfora.
Exemplo: céu da boca /  da mesa / asa da xícara

- Perífrase: trata-se de uma expressão que designa um ser através de uma característica, atributo ou fato que o tornou famoso.
Exemplo: A Cidade Maravilhosa (Rio de Janeiro) ainda atrai milhares de turistas.

- Antonomásia: é uma perífrase que se refere especificamente a pessoas.
Exemplo: O Poeta dos Escravos (Castro Alves) morreu muito jovem.

- Sinestesia: consiste em mesclar, em uma mesma expressão, sensações que são percebidas por diferentes órgãos sensoriais.
Exemplo: No silêncio escuro de seu quarto, aguardava os acontecimentos. (silêncio = percebido com a audição; escuro = percebido com a visão)


Espero que essas postagens lhes tenha sido útil. Para maiores informações, coloco aqui os sites que usei como base, que foram esse e esse (ambos dizem coisas bem semelhantes, mas coloco aqui inclusive para que vocês saibam o que usei como base para a postagem).
Se houver ainda alguma dúvida ou alguma coisa mal explicada, me comuniquem, que imediatamente tentarei mudar a forma de explicar, de forma que a informação atinja a todos igualmente.

Até a próxima.

domingo, 18 de maio de 2014

O uso da vírgula

Olá!
Depois de um enorme tempo sem conseguir vir aqui escrever nada, cá estou eu. Peço-lhes desculpa pela demora.
Recentemente uma amiga me pediu que fizesse uma matéria sobre o uso da vírgula. Disse a ela que eu precisaria estudar mais profundamente o assunto, porque tende a ser um pouco vago. A vírgula, na verdade, boa parte das vezes acaba por ser questão de estilo. Salvo os casos em que faz-se obrigatória, o próprio autor do texto pode optar por colocá-la ou não. O importante é respeitar as regras que as obrigam ou as proíbem, e são essas as regras que serão abordadas abaixo. Espero que sejam úteis. Para redigir o texto, usei como base esta página.

A vírgula deve ser usada nos seguintes casos:

1) Para separar topônimos (nomes de lugar) e datas:
       Ex: Rio de Janeiro, 10 de maio de 2014.

2) Isolar orações coordenadas assindéticas (as que não são separadas por conectivos):
       Ex: Chegando ao colégio, Maria entrou na sala, sentou-se na primeira cadeira, esperando pelo começo da aula.

3) Isolar orações coordenadas sindéticas iniciadas por conjunções adversativas, alternativas, conclusivas ou explicativas:
       Exs: 
Gostaria de ir à sua festa, porém estarei ocupada nesse dia. (Adversativa)
A menina estava confusa: ora achava que deveria se desculpar, ora achava desnecessário. (Alternativa)
Estudei o final de semana para esta prova; logo, tirarei uma boa nota. (Conclusiva)
Não me ligue pela tarde, pois estarei em reunião. (Explicativa)

4) Isolar expressões explicativas, corretivas ou continuativas (isto é, por exemplo, ou seja, aliás, etc.):
       Ex: Eu também sairei cedo, ou seja, não haverá ninguém em casa.

5) Separar apostos e vocativos em uma oração:
       Exs:
Beatriz, que é minha amiga, estará presente na festa.
João, preste atenção no que estou lhe dizendo.

6) Separar um adjunto adverbial, antecipado ou intercalado entre o discurso:
       Exs: 
No ano passado, manifestações ocorreram por todo o país.
Estávamos andando pela rua e, repentinamente, começou a chover.

7) Isolar orações intercaladas:
      Ex: Tomemos, pois, uma decisão a respeito deste assunto.

8) Isolar um complemento pleonástico (aquele que é repetido na frase por meio de um pronome):
      Ex: Aos insensíveis, por que não ignorá-los?

9) Indicar a supressão de um verbo na oração:
      Ex: Eu fui ao shopping; Victor, ao mercado.
("Fui" está subentendido na segunda oração, apesar de não estar expresso. Este é um excelente recurso de coesão.)

10) Separar termos coordenados na oração:
       Ex: Essa semana eu estudei Matemática, Geografia, Física, Química e Língua Portuguesa.

11) Separar orações subordinadas adjetivas explicativas:
       Ex: Santos Dumont, que é considerado o pai da aviação, foi o inventor do 14 Bis. 

12) Separar orações adverbiais (desenvolvidas ou reduzidas), sobretudo quando se antepõem à oração principal.
       Exs:
Ao chegar à escola, corri para falar com meus amigos.            [reduzida]
Quando cheguei à escola, corri para falar com meus amigos.   [desenvolvida]

A vírgula não deve ser usada nos seguintes casos:

1) Separando o sujeito do verbo:
      Ex: Santos Dumont | é considerado o pai da aviação.
               sujeito                    predicado

2) Entre o verbo e seus complementos (objeto direto e indireto), mesmo que o objeto indireto se anteponha ao direto:
      Ex: Dei | à minha mãe | um livro.
                    obj. indireto   obj. direto

3) Entre o nome e o adjunto adnominal ou complemento nominal:
      Exs:
Dom Casmurro é meu livro | de cabeceira.
                                           adj. adnominal
Eu tenho medo de escuro.
                         complemento nominal

4) Entre a oração subordinada substantiva e a principal:
       Ex: Seu maior sonho | era que o mundo encontrasse a paz.
            Oração Principal       Oração Subordinada Substantiva Predicativa



Espero que as dicas tenham sido úteis. Qualquer dúvida, vocês já sabem o que fazer.
Até a próxima!